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Segundo uma reportagem bem recente da Forbes o Brasil tornou-se o segundo maior mercado de produtos pet do mundo, com 6,4% de participação global. Ano passado estávamos em 4º lugar.
Isso também reflete nos investimentos: a Petz (PETZ3) fez seu IPO mês passado levantando R$ 3,03 bilhões no intuito de abrir novas lojas e hospitais para animais domésticos.
E diante da pandemia, o que ocorreu com o mercado pet? Ao menos a Petz registrou um aumento de 36,6% no faturamento no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado!
Incrível!
Ainda no assunto, mas trocando o enfoque, bem recentemente a punição para para quem praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais foi aumentada (lei 1.095/2019). Isso, inclusive, gerou uma distorção com atos realizados contra pessoas, ou seja, a pena mínima para determinados crimes contra animais é maior do que contra pessoas.
Essas são informações oficiais que provam o aumento e a importância dos animais de estimação em nossa realidade agora entrarei nas minhas observações empíricas.
Vejo pessoas falando de animais como se os bichinhos fossem “pessoas evoluídas”, sabe? Aqueles que "amam incondicionalmente"... Vejo isso ocorrendo mais frequentemente quando se fala sobre os cachorros e cito algumas frases:
“Mas o meu cachorro me ama de qualquer forma.”
“Pelo menos ele nunca me abandona.”
“Ele é meu amigo fiel que posso confiar sempre.”
“Para que vou ter filho? Para me dar dor de cabeça quando crescer? Meu cachorro é muito inteligente e sempre vai me entender.”
Que outras frases você já ouviu? Certamente, a lista é enorme.
A questão é que o cachorro ou gato faz o que faz porque não tem escolha. O teu animalzinho não te ama porque o amor implica liberdade. Teu cachorro não olha o Instagram para ver donos mais bonzinhos, mais bonitos ou ricos para te largar e ir para outro melhor. Teu gato não tem referência de vários donos que ele convive para escolher com quem quer ficar. Além disso, é muito fácil manipular os animaizinhos para que eles te “amem”, mas fazer isso com outra pessoa já é mais difícil. E esse “amor” (entre aspas) na verdade é sinônimo de: corresponder às minhas expectativas.
Algo me chamou a atenção no parágrafo de um recente Censo Pet feito pelo Instituto Pet Brasil: cada vez mais pessoas e famílias buscam um animal de estimação para companhia, dar e receber afeto e atenção. Mas uma pessoa não pode ser uma companhia, dar e receber afeto e atenção? Tem que ter um pet para isso? A resposta é: Claro que SIM, claro que precisa de um pet… se você não estiver disposto a ser tão companheiro ou dar tanto afeto e atenção a ele, aí você tem um pet visando esses “benefícios”, porque teu mais ou menos serve para um animal que não tem o nível de percepção que temos, a linguagem que temos, as referências que temos. Para ele serve, mas não serve para outra pessoa. A memória do animal não é uma memória de significado, mas uma memória de causa/consequência. O ser humano significa a realidade, o animal vê uma situação que já ocorreu e projeta o mesmo resultado que conhece. Por isso, o ser humano consegue perdoar e o animal também não (e o termo mais lindo para isso vem da língua inglesa: forgiveness, originado de to forget, ou seja, esquecer, mas não esquecer o que ocorreu, mas esquecer o significado que a pessoa deu quando o fato ocorreu; o que ocorre é mundo, o significado é dado pela pessoa; o que ocorre não pode mudar, mas a interpretação sempre pode - e isso também está ligado à liberdade).
Muitos estão entrando numa ilusão de se sentirem amadas por seus pets não importando se não conseguem manter relacionamentos sólidos e de crescimento. O gatinho serve para companhia, serve para não ficar sozinho, e como essa sensação de presença é dada pelo animalzinho, esquecem-se de se perguntar: “Por que estou sozinho”? Não que estar sozinho seja um problema, mas retirar essa pergunta da vida é, porque pode ser que a causa seja: “porque eu quero impor sempre minha vontade” ou “sempre farei o que eu quiser” ou “o importante é que eu seja feliz”. Isso é coisa de criança mimada: “eu”, “eu”, “eu”. E essas pessoas acham que seu animalzinho é “o único que as compreende”. Porém, o cachorro só compreende porque não compreende, ou seja, não é uma compreensão, mas um “aceite da sua condição de cachorro” porque ele não tem recursos de compreensão que tem o ser humano.
Pessoas que têm um pet agindo dessa forma, têm um animal que é a manifestação física de seu próprio ego onde o “rabinho abanando” é uma dose de afeto dada por quem não tem escolha de amar. Teu pet não te ama. Você pode amá-lo, claro! Você é livre e só tem condições de amar quem é livre. Mas não diga que um animal (que não tem liberdade) possa dar algo a você que ele não tem escolha de dar ou não. Somos livres porque somos livres para amar. O cachorro/gato se comporta de forma amável, porque NÓS significamos determinados comportamentos que eles têm como “forma amável”, mas ele não te ama. Só ama quem é livre, só o ser humano ama.
Mayko Petersen
#partiuserrico
13/10/2020