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Olha o problema da internet hoje. Qualquer um pode expor suas ideias sem, praticamente, qualquer impedimento. Dessa forma, mesmo os néscios têm voz: veja, por exemplo, como eu escrevo estas linhas!
Isso não é a Internet, mas é parte da sua evolução, ocorrendo por volta do início do novo milênio através da Web 2.0.
Anteriormente, na chamada Web 1.0, a comunicação era por mão única, uma reprodução do que seriam os livros, por exemplo: eu escrevia um livro lá no século XX, você o lia e se não me enviasse uma correspondência, eu jamais saberia tua opinião: havia uma barreira a ser transposta para expressá-la.
Bom, derrubamos os muros. E muitos dizem que isso é extremamente positivo porque, apesar dos néscios, os sábios também conseguem proporções que “não conseguiriam se não fosse a internet”. Será?
Primeiramente, vamos constatar numericamente (como o #partiuserrico gosta de fazer) se a evolução da Internet está, pela lógica, se transformando em aprimoramento. Evolução não é sinônimo de progresso: lembremos disso.
Primeiro, vamos olhar para o relatório INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional) divulgado pelo Instituto Montenegro, ipsis litteris:
Os Analfabetos Funcionais – equivalentes, em 2018, a cerca de 3 em cada 10 brasileiros – têm muita dificuldade para fazer uso da leitura e da escrita e das operações matemáticas em situações da vida cotidiana, como reconhecer informações em um cartaz ou folheto ou ainda fazer operações aritméticas simples com valores de grandeza superior às centenas.
Bom, você pode dizer que se 30% são analfabetos funcionais, temos 70% que não são. Logo, a maioria sabe reconhecer informações em um cartaz ou folheto ou ainda fazer operações aritméticas simples com valores de grandeza superior às centenas. Não sei se isso seria tão animador assim.
Mas há outros dados interessantes:
13% daqueles que chegam ou concluem o Ensino Médio podem ser caracterizados como Analfabetos Funcionais.
Apenas um terço (34%) das pessoas que atingem o nível superior podem ser consideradas Proficientes.
31% das pessoas com ensino superior são consideradas com alfabetismo rudimentar ou elementar
E para fechar: a pesquisa encontrou que somente 12% dos brasileiros são proficientes. Agora, invertemos o jogo: 88% dos brasileiros não têm habilidades plenas de elaborar textos e resolver problemas.
Bom, enquanto nosso índice de proficientes não sobe (pelo contrário, caiu em relação a 2007), veja essa imagem (que vale mais que 1000 palavras):
Essa imagem é de um relatório feito pela CETIC.BR que mostra a quantidade de usuários de Internet. O Brasil está muito bem no ranking, muito acima da média mundial. Agora será que conseguimos juntar as duas variáveis e ver o estrago?
Em uma década, mais que dobramos a quantidade de pessoas que podem se expressar livremente tendo diminuído a porcentagem daquelas que foram avaliadas com capacidade plena para elaborar textos.
Aliás, lembremos o crescimento da população brasileira no período: de acordo com o IBGE saltamos de 189.605.006 para 208.494.900 (um aumento de quase 10%).
Fácil conclusão: a quantidade numérica de pessoas sem competência técnica que está escrevendo nessa Internet livre cresceu assustadoramente 126.39%! Juntando os dados: saímos de 64.465.702 (34% de 189.605.006) para 145.946.430 (70% de 208.494.900).
Interessante, entretanto, foi a explosão das pessoas com ensino superior. Apesar do número ainda ser baixo em relação a OCDE, de acordo com o INEP em 2008 havia 800.318 concluintes do Ensino Superior e em 2017 o número saltou para 1.199.769 (um aumento de quase 50%!).
E a porcentagem de proficientes, não custa lembrar: CAIU! Aumenta a população, que usa cada vez mais a Internet e tem mais diplomas, mas que permanece estagnada em suas capacidades de proficiência. São todos esses que comentam em publicações, dão opiniões sobre problemas complexos e abrem suas contas em Instagram, Facebook e YouTube fazendo do Brasil, campeão de uso das redes sociais na América Latina.
Quem seguimos? Não é assim que são chamadas as interações no Instagram? Ora, uma dedução muito lógica disso tudo: seguimos pessoas cada vez mais incompetentes, isso é, não possuem proficiência. Esses são os influencers, aqueles que influenciam comportamentos, pensamentos, decisões, etc.
E quem governa a população? Ora, a própria população! Lembremos que os políticos também são brasileiros!
Mas sou contra a liberdade de expressão? Você pode achar que sim, pois tendemos a gostar de respostas “sim” e “não”, colocar as coisas em “caixinhas”, mas o intuito do #partiuserrico é fazer pensar.
Se você tem um ataque cardíaco, você gostaria de ser operado por um advogado? Ora, por mais competente que o advogado seja, você gostaria de um cardiologista - nem um ortopedista você desejaria nesse momento, por melhor médico que fosse. Ou gostaria que um analista de sistemas projetasse tua casa? Gostaria que um arquiteto levasse você e tua família de avião ao seu destino predileto?
E por que os incompetentes (não no sentido pejorativo, mas pragmático) é quem estão conduzindo as novas formas de comunicação?
Retornemos à pergunta no começo da exposição: se não houvesse tanta facilidade assim para expressarmos a nossa opinião?
Sócrates veio de família humilde, Jesus foi carpinteiro, Epicteto foi escravo e Gensha Shibi foi filho de pescador - para citar exemplos que lembrei imediatamente. Todos esses não tinham qualquer facilidade para “postar” seus conteúdos, mas influenciaram e influenciam, até hoje, pensamentos e comportamentos da humanidade.
Se a dificuldade - em certa medida - é um dos ingredientes para a evolução - que pode possibilitar o progresso da espécie -, o que vai acontecer conosco nesse mundo sem qualquer barreira para “postar” conteúdos que podem influenciar a própria espécie?
Mayko Petersen
#partiuserrico
19/05/2020