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Há pouco vi uma notícia trágica relacionada à realidade de minha cidade (Macaé), mas que acredito ser uma metonímia da realidade que estamos vivendo: uma empresa de 21 anos fechou. Justificativa: “encerramos as nossas atividades em função da crise econômica causada pelo COVID-19”.
Atualmente estamos passando por algo sem precedentes em nossa geração. Todos, absolutamente TODOS, obrigados (concordando ou não) a seguir o #ficaemcasa . Não vou, no tamanho de minha ignorância, traçar argumentos sobre o que se deve fazer. Médicos e economistas formados nas melhores universidades do mundo ainda não chegaram a um consenso… seria um pouco de prepotência de minha parte querer dar uma conclusão - obviamente, tenho a minha opinião, mas não vou a expor porque só seria uma opinião de alguém não especializado (e, quando não temos autoridade para falar de um assunto, somos mais inteligentes calados; já dizia Salomão: “Néscio calado passa por sábio, e por prudente quem fecha os lábios” - Prov 17, 28).
Vou me ater à realidade, onde todos conseguimos enxergar. Vamos tomar o exemplo dessa empresa que fechou após duas décadas.
Alguém no passado teve uma coragem excepcional: abrir um negócio. Uma coisa é ter ideias (eu tenho várias), outra é saber como tirar ideias do papel (eu sei como tirar algumas) e outra é ter CORAGEM de assumir o ALTO RISCO de dar errado (isso me falta). Por isso admiro tanto os empreendedores.
De acordo com a Demografia das Empresas feita pelo IBGE, ipsis litteris:
“A taxa de sobrevivência foi de 78,9% após 1 ano de funcionamento (2013),
64,5% após 2 anos (2014),
55,0% após 3 anos (2015),
47,2% após 4 anos (2016)
e 39,8% após 5 anos (2017).”
Um negócio não depende só da competência do dono. Também creio ser um pouco de prepotência achar que 100% do controle está no empreendedor, como se alguém conseguisse controlar todas as variáveis de um sistema que envolve várias pessoas onde cada um é um universo específico. Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia, em seu livro Rápido e Devagar: duas formas de pensar diz qual seria sua equação favorita:
sucesso = talento + sorte
grande sucesso = um pouco mais de talento + muita sorte
Não quero também aqui tirar a autorresponsabilidade dos negócios que vão à falência. Tudo que eu tentei demonstrar até agora é que as coisas são complexas demais para explicações demasiadamente simples.
Então, com Coragem, Talento (capacidades natas e inatas, estudo, diligência, trabalho) e Sorte esse empreendedor foi uma exceção: conseguiu sobreviver de tal forma que era melhor manter o negócio do que trabalhar para outro com outro negócio. Isso quer dizer que, financeiramente, podemos supor que estava valendo a pena.
E as pessoas que construíram esse negócio com ele? Quantos não passaram por lá e trabalharam, muitas vezes desejando uma grana para fazer sua faculdade? Trabalharam, fizeram dinheiro, pagaram sua faculdade, conseguiram um emprego devidamente remunerado, construíram a sua família e, em muitos casos, conseguiram romper a brutal estatística de ascender socialmente em relação à família de onde vieram. Afinal, uma família brasileira pode levar até nove gerações para deixar a faixa dos 10% mais pobres e chegar à de renda média do país.
Facilmente o que percebemos? Um negócio é capaz de transformar sonhos em realidade - e não somente do empresário, mas de todos envolvidos diretamente a até indiretamente nele.
E passando por todas essas décadas, com várias crises, ajudando vários a ter condições de conseguir uma vida mais digna, de subir a escada da ascensão social - porque o elevador está quebrado…
toc, toc.
Quem é?
Coronavírus!
E não somente o vírus, mas a política de contenção de contágio (que, mais uma vez, não estou julgando boa ou ruim) que enterrou vivos os sonhos dos envolvidos nessa empresa. Agora, alguns não poderão pagar suas faculdades, as faculdades perderão alunos e gerarão menos impostos. Como o Brasil não pode participar da Teoria Monetária Moderna, imprimindo dinheiro como se não houvesse amanhã, como os leitos de hospitais, máscaras e respiradores são comprados? Através dos impostos. Sem faculdade, muitos desistirão de seus sonhos, pois terão que resolver de forma imediata o problema de sobrevivência de toda a família; pensar na sobrevivência tomará tanto tempo a partir de agora que os sonhos ficarão para amanhã, amanhã, amanhã até que o amanhã torna-se o último dia. O sonho foi enterrado vivo. E, já temos "ótimos índices" de educação para nos darmos o luxo dessa realidade se tornar concreta, não é mesmo?
E o dono do negócio? Pensou em algo que poderia transformar sua realidade, dos clientes, dos funcionários… e, do nada, é obrigado a fechar o seu negócio em uma semana. Mudaram as regras do jogo, digo, o tiraram do jogo sem anunciar previamente. Simplesmente, mandam um ofício: “a partir da semana que vem tuas vendas serão zero, teu faturamento será zero - sem negociação, passível de multa”. Difícil uma coragem que resista a tamanho poder. E, dessa forma, será que esse empreendedor terá coragem de abrir um novo negócio que pode ser fechado por motivo de uma força maior imprevisível? Afinal, agora abrimos um procedente. Como aceitou-se passivamente o lockdown, para posteriores pandemias os governos também podem realizar o mesmo. Bom, mais um possível sonhador enterrado vivo.
Qual é o tamanho do cemitério onde os sonhadores estão sendo enterrados?
Obviamente, sempre virá um coach de negócios, onde seu negócio é ensinar aos outros como ter negócios, que falará de adaptabilidade e que a situação está igual para todos e que você é responsável pelos seus resultados. Virão as exceções lançando livros daqui a 10 anos falando como cresceram mesmo com a crise atribuindo o fracasso dos outros à falta de adaptabilidade. Só é possível ser responsável se tem-se liberdade e conhece-se as regras do jogo - e só é possível conhecê-las se forem claras.
Quando um asteroide atingiu a Terra, até os gigantes dinossauros foram extintos. Cada um suporta um asteroide diferente. Cada ser humano é muito complexo e alguns serão enterrados vivos, nunca mais serão os mesmos, porque, de repente, ataram-lhe mãos, pés e boca e veio um asteróide que colidiu com todos os seus sonhos.
Outras espécies surgiram depois dos dinossauros. A maior força da Terra, a natureza, sobreviveu porque a natureza é adaptável. Virão outros seres após a extinção dos atuais dinossauros, daqueles que, apesar de “sobreviver”, apesar de estarem respirando, estarão com o túmulo nas costas. Dinossauros sonhadores extintos por esse asteroide. E se não pensarmos neles, não estaríamos sendo hipócritas falando que estamos pensando nos outros, no todo, sem levarmos esses em conta? Eles JÁ ESTÃO SENDO ENTERRADOS no cemitério dos sonhos enterrados vivos. Será que os psicólogos, coaches e influencers podem trazer os dinossauros do passado de volta à vida? E os do presente, por que seriam exceção?
Mayko Petersen
#partiuserrico
05/05/2020